Quando nasci, meu pai compôs uma música para me ninar. Na guitarra. E diz minha mãe que essa música aliviou muitas das minhas cólicas. E tocava Caetano, Vínicius, Chico e Toquinho.
Aos 3 anos aprendi a cantar Mercedez Benz da Janis. Cantarolei tudo enrolado na sala e os olhos do meu pai se encheram de lágrimas me observando do corredor.
Chorava de medo de Time do Pink Floyd, mas curtia Hotter Than Hell do Kiss. Adorava o Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão da Marisa. E achava graça meu pai cantar Yellow Submarine com a voz do Pato Donald.
Me mudei pra casa dos meus avós. Mamily começou a trabalhar e eu ficava com eles e com as tias. E as influências começaram. Passava o dia com as tias, elas ouviam pagode. "Marrom bombom, marrom bombom..." Em pouco tempo tava sabendo a programação da Band FM de cór.
Pra desespero do dad que tentava consertar: Chegava em casa depois do trabalho, pegava a guitarra e sentava comigo. Cantávamos muito Mamonas Assassinas, que era o auge, e Raul. "Era uma veeeeeez, um sábio chinês.."
Além de tudo isso ouvia os meus cd's da Angélica, da Eliana e do Castelo Rá-Tim-Bum. Tinha também um vinil da TV Colosso. Nunca gostei da Xuxa.
Com 6 anos dançava É o Tchan e sabia a letra de Antes das Seis do Legião. Durante a semana ouvia o que as tias ouviam e dançava. No fim de semana, saía com o dad pra comprar brinquedo e ouvia Gilberto Gil. Realce era a preferida. Fui pra Porto Seguro e voltei com um cd Axé Bahia.
Era assim. Ouvia um cd do Só Pra Contrariar, e logo depois um do Barão Vermelho. No som do carro, durante as viagens, ouvia sempre o Acústico dos Titãs. Sabia cantar quase todas, gostava de Marvin e tinha pesadelo com O Pulso. Voltava de viagem e lá vinham as tias com o pagode de novo.
Houve um tempo que elas viraram fãs do então Nativus. "Deeeeeixa o menino aprender oiáiá" A fase menos pior, segundo meu pai.
Ah, e teve a época do Planet Hemp e Gabriel o Pensador. Aí até meu pai tava junto. Na verdade, ele que apresentou a elas o Usuário, primeiro do Planet. Cantávamos todos Legalize Já no talo. Mamily e vó ficavam loucas. "Olha a musicalidade desses caras, a pegada, esse baixo.." E Maresia do Pensador, que na minha ingenuidade falava da praia de Maresias.
Aos 10 anos, fui num show que agora não me lembro se era da Nativa ou da Gazeta, no Ibirapuera, dia das Crianças. Braço engessado e tudo. Eu, Mara, Dri, Cici, Leo e Apary. Pronto, me apaixonei pelo KLB.
Na segunda feira depois do show já fiz o dad me dar os dois cd's. Em duas semanas já sabia os dois cd's de cór. Logo influênciei a @cahsch, que devia estar com 7 ou 8 anos.
E foram 3 anos de tortura pra família toda. Eu respirava KLB. Tinha uma parede lotada de pôsters e fotos, o bolo do meu aniversário de 11 anos tinha o rosto deles de papel de arroz. Em Agosto de 2002, fui ao primeiro show deles no Olympia. Quase morri de tanta emoçãozinha.
E até os 13 anos foi assim. Fui em todos os shows do KLB. Fechados, pq os de graça meu pai me proibiu hahaha. Ia com mamily, ou o dad pagava pra Dri e a Apary irem comigo.
Até que cansei deles. Na rádio da perua, a caminho da escola, quem mandava era o Rodrigo. Ouvíamos então a 89, que era a Rádio Rock. Em casa, meu pai ouvia a Kiss ou a Mix, que era decente.
Com as tias, ouvia a Band ou a Metropolitana. E comecei a gostar de Black. Comprei um cd do Nelly. Ah sim, antes saía com o dad pra dar uma volta e comprar brinquedo. Todo fim de semana. E, a esta altura, os brinquedos foram substituídos por cd's e roupas. Um sábado comprávamos um cd, no outro, uma Melissa ou - talvez a parte que mais me envergonhe na vida- roupa na Planet Girls. Eu não me orgulho de ter usado roupas da Planet, gente. Não mesmo. Ter gostado do KLB e de pagode me dá menos vergonha.
Enfim, eu estava tão perdidinha na vida que em um dia comprei o Live in Texas do Linkin Park, o Nellyville do Nelly, o Justifield do Justin Timberlake e o Malhação Nacional. E amava todos. Nesse mesmo dia, fomos jantar no shopping e ainda comprei o The Eminem Show e o Acústico da Cássia Eller. Uma pequena saladinha musical. Mas preferia o black do que o rock. E criticava as "velharias" que meu pai ouvia, pq achava que era coisa de tiozão.
Aos 15, eu era chatinha e metida a rebeldezinha em casa. Tinha 1 milhão de inseguranças e dúvidas. Um dia ouvi Filho Único do Cazuza. Descobri o amor da minha vida. Tudo que eu queria falar mas não conseguia, o Cazuza já havia falado em alguma música. Voltei a ouvir Legião. Descobri Renato falando também o que eu queria falar. Mas sempre me identifiquei mais com o Caju.
Pronto, sr Carlos Julian! Sua filhinha está salva!
Passei a ouvir mais mpb e rock. Tudo se encaixava perfeitamente em alguma parte da minha vida. O primeiro contato foi assim, com a letra. Depois aprendi com o dad sobre as melodias. A diferença entre uma música bem feita, feita com o coração pra essas merdinhas pré-fabricadas, já pensadas em virar chiclete. Depois veio a Bossa e o Blues. Que delícia a voz da Billie Holliday!
Em 2007 fui no meu primeiro show de rock. Último show do Barão Vermelho no Tom Brasil. Chorei horrores. Era aquilo que eu queria pra minha vida. E o primeiro ataque de groupie hahaha Em abril do mesmo ano, Aerosmith com abertura do Velvet Revolver. Primeiro show internacional já em grande estilo. Tyler e Slash na mesma noite. Inesquecível.
Desde então foram: Capital Inicial, 3 do Rodrigo Santos (queridíssimo baixista do Barão), Rita Lee, 2 do Frejat, Kiss, AC/DC, Aerosmith de novo e Bon Jovi. A maioria Vip e/ou grade.
Cada um marcou de algum jeito, mas o segundo do Aerosmith, nesse ano, foi o melhor de todos para mim. Não dá pra explicar o que se passou nesse show.
E o Bon Jovi foi o mais lindo. Choray horrores. Set list de arrepiar, 3 horas de show. GENTE, eu ouvi Bed Of Roses ao vivo.
Enfim, ouvindo tudo que eu ouço e tendo visto esses shows, eu me pergunto: "Como pode essa gente gostar das merdas de hoje em dia?" É tanta coisa ruim e de tantos estilos diferentes. Tem o Restart, o Cine, o Fresno, o NXZero, o Justin Bieber, o pagode de sempre, o sertanejo e mais uma infinidade. Peloamor! São todas coisas (pq não dá pra chamar de música) fabricadas pra massa. Dois ou três acordes e uma letrinha melacueca. É fórmula isso. E enfiam goela abaixo da galera pra fazer os produtorezinhos ganharem dinheiro (vide Rick Bonadio e Tutinha). É coisa pra gente medíocre. Se vc é criança ainda, é entendível. Se vc tem 12 anos e acha o Restart lindo, sussa. Um dia vc vai crescer e vai dar risada disso. O mesmo vale pro Luan Santana. Nessa faixa etária normalmente surge o primeiro amorzinho, e a menina anda toda sonhadora. Essas músicas acabam fazendo sentido pra ela. E os meninos dessa idade, ouvem pra fazer sucesso com as meninas. É totalmente normal.
Passou dos 15, 16 anos a pessoa ainda acha o máximo esse povo e odiando ler.. OI?! Isso é falta de cultura. E vc se tornará uma pessoa média, fácil de ser manipulada por gente como o Rick Bonadio, que não quer te dar qualidade, só quer saber do dinheiro dele.
Parabéns, vc é só mais um número nesse mundão de meldelz.
Mas pior que ser só mais um número é quem se diz eclético. Jesuuuuus! Vc não é eclético, na verdade vc não tem personalidade. Ou é bipolar, sei lá. Não vem me dizer "ah, eu gosto de tudo. Ouço Rebolation e Iron Maiden." Vc é a pessoa mais desinteressante e brochante da face da Terra. Não tem como alguém ser assim. Vc se identifica com a dor de corno do sertanojo e com o punk dos Ramones? TEM ALGO DE ERRADO AÍ!
Não há problemas em ser flexível, uma metamorfose ambulante. A gente muda muito na vida. Mas sempre fica a essência.
Eu respeito quem gosta das coisas comerciais, é uma opção sua.
Agora os que se dizem ecléticos, não têm o meu respeito não.
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#VouConfessarQue escrevi isso num momento de ódio supremo, o qual estava estudando Nietzsche quando o vizinho liga o som do carro com Zezé di Camargo e Luciano no último volume.
Fim.