Vista do 2º andar do Edifício Zarvos, Rua da Consolação, 2010.
O tempo em que estudei na Consolação, não foi dos mais fáceis.
Na verdade, foi o pior que já vivi.
Eu classifico como angustiante.
Mas que saudade! Que angustiante saudade!
Gostava muito de tomar café da manhã naquela padaria do Copan, quase que de frente pra Love Story.
Vendo o contraste das putas que de lá saiam e os executivos, correndo com seus expressos na mão e dois celulares na outra.
Que triste vida tinham as putas! Dar o tempo todo, pra esses caras fedidos e ogros. Alguns já velhos. Que nooojo que eu tenho de velho tarado! Elas têm o meu respeito por aguentar tudo isso.
Que triste vida tinham os executivos! Sempre correndo, ao celular. Não têm tempo para nada, nunca, enquanto o capitalismo lhes come a bundinha. São putas do sistema!
Pensava eu.
Mas nunca fui contra o capitalismo, adoradora do Che ou qualquer coisa do tipo.
Nasci consumista demais.
Às vezes, eu gostava de perder a aula de Química pra sentar na calçada da Consolação, com um copo de chocolate cremoso da Império Nobre, sob o solzinho frio de inverno, apenas observando.
Observando tudo.
O mendigo que ficava perto do viaduto e às vezes subia do outro lado da rua, pedindo cigarros.
Qual seria a história dele?
Um desiludido da vida.
Os carros, sempre apressados, não podiam esperar 10 segundos alguém que parasse para o carona descer.
Buzinas.
As pessoas andando, parecia que seguiam os riffs do blues que eu escutava.
E o gari? Todo dia limpando a sujeira dos outros. Mas cantando.
Ele andava tudo aquilo ali. Tinha um dia inteiro pra observar tudo o que eu queria ver em apenas 50 minutos. Quantas coisas interessantes ele deve ter visto!
Ou não. Em rotina, o ser humano não presta atenção aquilo que está a sua volta.
Mas ele cantava. E tinha o sorriso de quem gosta da vida.
Talvez sua memória fotográfica dali, centro da maior cidade da América Latina, valesse mais do que a experiência da puta, ou do que o diploma do executivo.
O andar das pessoas, as diferentes construções de prédios, o trânsito..
Como o verde fica muito mais bonito com aquele vento gelado balançando a copa das árvores sob o sol tímido que vem surgindo em frestas por entre os espaços dos edifícios de arquitetura interessante, enormes e sujos.
Eu sempre gostei do centro.